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capa do livro
Clarice Lispector - Entre o mito de Narciso e o literário
Maria da Luz Duarte Leite

A literatura de Clarice Lispector ocasionou um debate polêmico entre os críticos literários a respeito do seu modo de narrar, e, sobretudo, pelo fato de sua escrita romper modelos literários consagrados pela tradição literária. Em sua ficção, a autora explorou com esmero temas relacionados à condição existencial, à busca de identidade, ao universo feminino, entre outros. No que se refere à problemática da identidade de suas personagens, o grande drama é o clássico questionamento: Quem sou eu? O tema do desdobramento do eu aparece em sua prosa como matéria ligada ao processo de autoconhecimento, pois suas figuras dramáticas se constituem indagando sobre o si mesmo e o estar no mundo. Atenta às possibilidades de apropriação metafórica do mito de Narciso em contos clariceanos, direcionamos nosso olhar para a representação do referido mito nos seguintes contos: “Ele me Bebeu” da obra A via Crucis do Corpo (1998), “Devaneio e Embriaguez Duma Rapariga” de Laços de Família (1998) e “Obsessão” de A Bela e a Fera (1999). Na leitura dos contos selecionados, o destaque é para as metáforas do espelho, da máscara, do reflexo no outro, da embriaguez e do olhar, recursos que indiciam e atualizam o mito de Narciso na ficção da referida autora. Neste livro, procuramos entender o drama das personagens, tendo como foco o esfacelamento de suas identidades, traço determinante do Narciso moderno.