Contar e ouvir histórias, por mais espichadas que sejam, é como dourar a imaginação, criar a ilusão do que parece ser, mas nem sempre é. A dor, fruto do amor ou do desejo de, pode não ser produto de espinhos. Cada história tem sua história e, dentro delas, um mundo inteiro de sentimentos e emoções que podem transbordar, na delicadeza de uma flor de cactos ou na felicidade que chameja, passando pela piedade, pela perda, pelo desengano, pela felicidade ou, simplesmente, pelo dia a dia, motivos de vida e de viver. Fato ou quimera, ouvir e contar histórias é saltar sobre a ponte do desabitado para chegar ao coração de tudo o que povoa o universo: do pedregulho que nos calca o pé, ao luzeiro que nos estrela a alma; do fogo que arde no mato, ao doce prazer da paz poente; do estreito caminho do saber, à vulcânica alegria da conquista. Contar e ouvir histórias é isso: frequentar passados, arquitetar futuros, permutar gente e bicho, céu e mar, saborear e celebrar o que de cada um se sabe, o que em cada um, intimamente, cabe.