A vida é música. A minha apareceu-me chegando desassossegada. E me induziu às notas. Mas a música não é tudo. Não é nada, perto do que nossa alma abraça. Anseios enormes que nos comandam a viver – este ato terrivelmente arriscado, sempre improvável, quase impossível, para o qual somos instigados. Viver seria uma espécie de musicar o mistério. É o que faço agora, quando proponho este registro: dedicar-me a repensar uma parte da obra feita de sons de muitos amigos, cravada de fantasia, repleta de olhos do meu ser, igual aos olhos do mundo. Meu olhar nesta história é pessoal e intransitivo. Uma possibilidade entre todas. É olhar atento à melodia tênue, distante. Observa o dissimulado que já se foi e não mais se verá. A história são memórias perdidas, notas dissociadas, pautas em cor sépia, papel resseco e amassado. Experiências do desconhecido que redescobrimos, do viver sem sabê-lo. Descobertas pessoais e intransitivas. É assim a minha história: mérito restrito, imponderável, imensurável. É assim. É história do tamanho de um pequeno coração que tem limites. Coração impreciso. A ele a entrego, como canção