Higienópolis. Este é o nome do meu bairro no Rio de Janeiro, que ainda está lá, mas quem lá for não o encontrará. Nascido e criado entre as décadas de 50 e 60 do século XX, eu corria descalço pelas suas ruas, ignorando o Brasil em efervescência política. Jogava peladas nos campinhos dos muitos terrenos baldios, dançava quadrilha e pulava fogueira nas festas juninas de cada rua e saía por aí trocando gibis com colegas de casa em casa. Uma época fácil de ser criança e difícil para uma mãe sozinha cuidar de dois filhos. Mas conseguimos seguir em frente.
Na adolescência, chegou a consciência; criança ainda não é lá muito consciente. Momento de muito estudo e muita leitura. Aí entrou meu “barato”, como se dizia no início dos anos 70. Ler era meu prazer. Continuou sendo ao formar-me oficial da Marinha Mercante. Em cada navio que embarcava levava meus livros e adquiria outros pelos portos da vida.
Hoje, aposentado do mar, incorporei ao hábito da leitura o de escrever. O computador, confesso, ajudou-me, muito melhor que máquinas de escrever. Inspirado nos poemas que lia, aventurei-me em próprias linhas. Foram-se acumulando nos arquivos do computador e publicados no site Recanto das Letras. Aos poucos, pessoas que os leram foram unânimes em exclamar: “Nossa!”. Ainda hoje não sei se me incentivavam ou me iludiam. De qualquer modo, resolvi dar um passo além do abismo. Publicar um livro. Um livro de sonetos de verdade. Agora que o passo está dado e a queda é livre, resta somente aos leitores salvarem-me ou condenarem-me. Se leitores houver, além de você, leitor (a), é claro. Obrigado.