Escrever um livro é extrair de si o que está oculto e que, ao ser revelado através das letras, revela as mil vidas que se viveu e se tem agora a oportunidade de mostrar a outros, algo que até então era só seu e nem mesmo o escritor conhecia. O desejo de escrever, creio eu, nasceu comigo ainda criança, numa época em que não era comum meninas estudarem, principalmente as que moravam longe das Cidades. Éramos uma família numerosa e havia muitas crianças vizinhas que, pelo mesmo motivo, não podiam estudar. Veio então a necessidade de abrir uma Escola Rural, onde todos pudessem ser alfabetizados. A Escola fora instalada num salão contíguo a nossa casa, onde todos se reuniam para estudar, jovens, crianças e adultos, cada grupo em horários diferentes; eu, que era ainda pequena, participava de todos os turnos, menos o noturno. Com isso tinha oportunidade de aprender mais que as demais pessoas, e logo já sabia ler e escrever; estava sempre com um caderno nas mãos criando historinhas e poesias. Findo o Contrato daquela professora, ela foi embora e não teve substituta. Mais tarde meu pai, vendo o esforço de minha irmã e o meu, levou-nos para estudar na Cidade de Bocaiuva, tendo uma senhora como nossa cuidadora. Matriculou-nos no Grupo Escolar Coronel Fulgêncio, nessa Cidade. Assim era o nome do colégio na época. O desejo que crescia comigo, e ouvindo com interesse as histórias contadas por um casal de idosos que morava conosco, levou-me mais tarde a estudar para realizar este grande sonho. Quando criança e alguém perguntava: “O que você quer ser quando crescer?” Eu respondia: “Serei escritora”. É lógico que fiz muitas coisas antes, porque assim é a caminhada da vida.
